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Ela foi internada no dia 19 de novembro e diagnosticada com diabete gestacional e hipertensão. Mesmo com o diagnóstico das doenças, ela foi induzida ao parto natural.



Uma diarista, de 33 anos, denuncia negligência no parto dela na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, administrada pelo governo do estado, depois que o bebê dela morreu na unidade. O recém-nascido sofreu falta de oxigênio no cérebro, parada respiratória e morreu 12 dias após o parto.

O bebê, que era um menino, nasceu por volta das 5h no dia 22 de novembro, após um trabalho de parto de mais de cinco horas. Ele nasceu sem respirar e precisou passar por uma massagem cardiorrespiratória.

 

A mulher, que não quis se identificar, estava com nove meses de gestação quando, no dia 19 de dezembro de 2023, foi internada na maternidade.

Na unidade, ela foi diagnosticada com diabete gestacional e hipertensão, doenças que podem causar complicações no parto. Apesar disso e mesmo com o pedido da mulher por uma cesariana, a equipe médica da unidade induziu o parto e forçou ela a ter o bebê de forma natural, segundo a denúncia.

"Eu falei para eles sobre a minha condição, que eu não tinha como fazer um parto normal. A minha mãe estava me acompanhando e também falou isso para eles. Mas, eles não quiseram fazer [a cesárea] e disseram que eu tinha condição de fazer o parto normal. A gente pediu para dois ou três médicos de plantão, mas nenhum deles quis fazer a cesárea", contou a vítima.

Em seguida, a criança foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal da maternidade, onde ficou internada, segundo consta em boletim de ocorrência registrado pela vítima no 2° Distrito Policial.

Respirando com a ajuda de aparelhos, a criança ficou internada na maternidade até o dia 4 de dezembro do ano passado, quando não resistiu e morreu. O menino era o primeiro filho da mulher e do marido, de 43 anos.

 

"Eu quero justiça pelo o que aconteceu, pelos danos que foram causados. Eu me preparei para receber o meu filho, eu comprei enxoval, tudo, e estava esperando por ele", afirmou, entre lágrimas, a mãe.

Por conta do parto, a mulher desenvolveu problemas de saúde como infecção urinária e constantes dores na barriga. A mãe registrou uma denúncia na ouvidora da unidade de saúde, mas não recebeu ajuda e nem teve resposta.

"Depois do parto eu fiquei doente, tive infecção urinária e, inclusive, estou doente até agora. Eu já fui para a maternidade, para o Pronto Socorro Cosme e Silva e estou indo direto no posto de saúde, tudo isso devido às complicações do parto. Eu fiquei doente", explicou ela.

Em nota, a Secretaria de Saúde (Sesau), responsável pela unidade, disse que segue criteriosamente todos os fluxos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, que apontam "para o estímulo do parto natural como forma de preservar a saúde da mãe e do bebê, como também a rápida recuperação da mãe após o parto".

"O diabetes e a hipertensão gestacional não eliminam as chances de um parto normal e nem é por si só indicação de cesariana, mas isso depende da gravidade, da condição da mãe e de outros fatores de saúde", ressaltou.

 

O boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado na delegacia de Polícia Civil no dia 11 de janeiro pelo crime de omissão de socorro.

Procurada, a Polícia Civil informou que o caso foi encaminhado para investigação na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e que a vítima será intimada para "prestar declarações no sentido de identificar os envolvidos no atendimento hospitalar para posteriores esclarecimentos".

Atualmente, a maternidade Nossa Senhora de Nazareth funciona onde antes era o antigo hospital de campanha para pacientes com Covid-19. A estrutura das tendas, feita para ser temporária, é chamada pela população local de "maternidade de lona".

 

No ano passado o número de mortes de bebês na maior maternidade de Roraima ultrapassou os de 2022: foram 28 óbitos em 37 dias, enquanto no ano retrasado foram 20 óbitos.

Em fevereiro do ano passado uma grávida chorando em desespero na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth ganhou repercussão nas redes sociais em Roraima. No vídeo, a gestante grita "tira minha neném, por favor" e funcionários da maternidade a ajudam a levantar do chão

Em julho de 2023 um médico denunciou que três bebês recém-nascidos morreram por falta de assistência. O relato dele, que atua como plantonista na unidade, foi feito ao Ministério Público do estado, Conselho Regional de Medicina e Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Roraima.

No dia 9 de janeiro deste ano, uma gestante de sete meses denunciou o atendimento na unidade. Esperando uma menina, a jovem entrou na maternidade quando estava com seis meses de gestação e, desde então, tem notado que o bebê perde peso.

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